O problema fundamental de todo ser humano é
a não aceitação de si
mesmo, porque não se conhece, em realidade, o que se é... Buscamos sempre algo diferente,
entre pessoas, coisas ou situações, para estarmos satisfeitos conosco.
O
coração, cerne, do ser humano é consciente de si mesmo, mas adquire certas identificações
ao longo da vida. E, com as identificações centradas no senso de Eu, certos complexos
surgem. Ao estabelecer uma identificação com as limitações, chego à conclusão
de que tudo o que não tenho será sempre muito maior do que tudo o que posso possuir.
Por isso, quando olho para mim mesmo, estou convencido de que “eu sou pequeno,
eu sou insignificante”. E, por me ver pequeno e sem valor, “Eu não sou aceitável
a mim mesmo”... Essas são conclusões que estão centradas no senso de eu.
Sendo
um ser auto consciente e com um senso de eu, seja quem for, vai chegar a esse
problema de que “eu sou pequeno e insignificante” e, por isso, não sou
aceitável como sou... Porque não me aceito, tudo passa a ser desejado no
intento de me fazer aceitável... mais força, mais poder, mais dinheiro, mais
habilidades e capacidades, mais, mais, mais... e me torno uma pessoa que está
sempre desejando, esperando, exigindo, demandando... Esse senso de pessoa que
deseja é descoberto ainda na criança. E, devido a esse indivíduo constantemente
“desejando”, não encontro paz e satisfação nem em mim mesmo nem com o mundo.
É
dito no capítulo dois da Bhagavadgita: “Contudo, aquele cuja mente está centrada,
movendo-se no mundo dos objetos com os órgãos dos sentidos sob seu controle,
livre de gostos e aversões, atinge a tranquilidade. Para a pessoa cuja mente é
tranquila, a destruição de toda dor e tristeza acontece. O conhecimento [da
natureza do Eu] se torna, em pouco tempo, bem estabelecido para aquele cuja
mente é tranquila. Para aquele que não é tranquilo, o conhecimento não existe. Também,
para aquele que não é tranquilo, a contemplação não existe. Para aquele que não
é contemplativo, a paz não existe. Para aquele que não tem paz, como pode haver
felicidade?”.
Em
síntese, com a mente agitada por ser uma pessoa que está sempre desejando, não
encontramos paz, não nos sentimos “em casa” em nós mesmos. Quando estamos “em
casa”, intimamente, experienciamos uma sensação de segurança e aceitação
irrestritas. “Em casa”, podemos relaxar todas as nossas expectativas e
cobranças; deixamos “de fora” as lutas diárias, e damos uma pausa nos esforços
para mudar algo que gostaríamos que fosse diferente... “Em casa”, sabemos que,
fundamentalmente, todos nos aceitam como somos e, esse relaxamento proveniente
da aceitação nos faz despertar a paz que mora no coração de uma pessoa que,
momentaneamente, não deseja nada diferente do que realmente é...
Quando
o desejo por mudança cessa; quando aquietamos as agitações da mente; quando
aceitamos a nós mesmos exatamente como somos aqui e agora, a paz se revela como
um estado íntimo de plenitude, em que o indivíduo se vê completo, pleno, em si
mesmo... E, o que é a felicidade que não este ‘estar em paz’, completo, em si
mesmo, por si mesmo e consigo mesmo?
No
capítulo sete da Chandogya Upanishad, o sábio Narada vai ao encontro do sábio Sanatkumara
e descreve seu problema: “Estou sentindo muita tristeza. Por favor, me ajude a
atravessar essa tristeza!”. O professor perguntou o que ele sabia e ele
respondeu que tinha na memória os 4 vedas, os 6 vedangas (disciplinas
acessórias como gramática etc.), várias outras disciplinas de conhecimento (como
astrologia etc.); e foi listando tudo q ele estudou... “Sou o grande Narada,
mas mesmo assim estou em grande tristeza!”.
O
professor reconheceu o problema e disse que ele não possuía o único conhecimento
que poderia tirá-lo dessa tristeza, que traria a aceitação de quem ele
verdadeiramente é... Esse conhecimento é chamado de Bhuma-Vidya, o conhecimento
daquilo que é livre de limitações... O que é livre de limitações, ilimitado? O
sábio diz que Bhuma, o ilimitado, é em verdade sukham [ananda], a felicidade...
As Upanishads afirmam que a felicidade é a realidade fundamental do indivíduo e
do todo, e que por natureza é o estado de ser livre de limitações. Contudo,
essa verdade, que mora no coração de todos, está coberta parcialmente por um
véu de ignorância e, por isso, não conseguimos reconhecer.
Com a mente calma e com os órgãos dos sentidos sob
controle, livre da agitação dos desejos, o conhecimento da natureza fundamental
do ser é possível de ser escutado e compreendido. E, para entender e lidar com
essa mente, para disciplinar os órgãos dos sentidos, para discernir sobre as
necessidades e desejos, ou seja, para se preparar para a aquisição desse
conhecimento, uma vida de Yoga é o caminho.
Com
uma vida de Yoga, ou seja, uma vida dedicada ao estudo e ao auto conhecimento, vou
me desfazer das falsas conclusões centradas no senso de eu e, encontrar um Eu
que é totalmente aceitável. Esse Eu aceitável é a fonte de toda experiência de
satisfação, pois por natureza é a própria felicidade.
Convidamos a todos para a palestra no Cantinho do Ser, no Flamengo. Maiores informações: Yoga e a busca pela Felicidade
OM TAT SAT!
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